Por Suely Melo

Superintendente de Planejamento e Desenvolvimento da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp
Marcello Veiga é o principal executivo da Superintendência de Planejamento e Desenvolvimento, área que atende toda a Região Metropolitana de São Paulo. Bacharel em Administração e pós-graduado em Finanças. Atuou na área de Controladoria e atualmente coordena as áreas de Planejamento, Gestão sendo responsável pelo desenvolvimento de novas tecnologias para o setor de saneamento.
Em mais uma iniciativa precursora na área de saneamento, que traz inovação e eficiência para o setor, a Sabesp iniciou um projeto de IoT (Internet das Coisas) para medir o consumo de água. De baixo custo, a tecnologia garante redução de perdas de água, contribuindo para o meio ambiente, combate a fraudes e melhora no relacionamento com os clientes.
Para explicar sobre o IoT no Saneamento, a Revista Saneas entrevistou Marcello Veiga, Superintendente de Planejamento e Desenvolvimento da Sabesp. “Um projeto desta magnitude é importante não só para São Paulo, mas para todo o setor de saneamento”, destaca.
Confira a entrevista:
Revista Saneas: Como surgiu a ideia de trazer a inovação da Internet das Coisas para o Setor de Saneamento? E qual a importância desta iniciativa para São Paulo?
Marcello Veiga: A Diretoria Metropolitana da Sabesp atua constantemente na busca pela inovação. E a atuação em monitoramento e controle de equipamentos sempre trouxe grandes oportunidades, uma vez que uma empresa do porte da Sabesp necessita cada vez mais de tecnologias que permitam atuação à distância. Ao longo dos anos se fez o monitoramento de consumo por meio de equipamentos de GPRS [General Packet Radio Service], que permitia acompanhar o consumo dos principais clientes, mas limitava o número de instalações devido ao alto custo dos equipamentos e da comunicação. Com a oportunidade de realização deste monitoramento através da utilização de equipamentos de menor custo, aliado a um custo de comunicação acessível, a diretoria não hesitou, em 2018, em realizar um projeto piloto visando avaliar a cobertura das redes de IoT [Internet da Coisas] na região onde atua. A ação foi bastante positiva e permitiu que, em 2019, a Sabesp realizasse a primeira licitação voltada ao monitoramento de consumo através de redes de IoT.
Um projeto desta magnitude é importante não só para São Paulo, mas para todo o setor de saneamento, uma vez que permite aprimorar as estratégias, focando principalmente o combate às perdas e a prestação de um melhor serviço aos nossos clientes, de forma eficaz e financeiramente viável.
Revista Saneas: Quais são os desafios na implantação do projeto?
Marcello Veiga: Mesmo trabalhando, atualmente, somente com 100 mil clientes, que representam aproximadamente 2% dos clientes da Região Metropolitana de São Paulo, este é um projeto grande. São mais de 8.000 trocas de hidrômetros por mês, sendo a maior parte delas de grande diâmetro. Requer uma logística bem elaborada por parte do contratado, além de atuação forte das áreas comerciais em comunicar todos os clientes que vão receber a tecnologia em seus imóveis.
Revista Saneas: A iniciativa é voltada por enquanto somente a grandes consumidores como prédios universitários, shoppings e condomínios, por exemplo. Qual é a perspectiva para que serviço chegue ao consumidor em geral?
Marcello Veiga: Como o foco principal do projeto é reduzir perdas, trabalharemos nos 100 mil clientes de maior consumo da diretoria. Ou seja, comércios, indústrias, órgãos públicos e condomínios residenciais. Hoje os medidores inteligentes ainda apresentam custos relativamente altos, o que dificulta a aplicação em larga escala, mas acreditamos que, a médio prazo, os preços devem reduzir, tornando viável a aplicação em clientes com menor consumo.
Revista Saneas: Quais são os principais benefícios para os clientes
Marcello Veiga: Uma vez que a Sabesp passa a monitorar o consumo diário dos imóveis, o cliente também tem acesso a estas informações por meio do APP Sabesp, podendo realizar a gestão de seu consumo. Isso facilita a identificação de possíveis vazamentos e até evita surpresas na conta, já que o APP apresenta ao cliente, ao longo do mês, uma projeção de consumo baseada em seu histórico. A Sabesp também faz uso de ferramentas que permitem identificar anomalias nos medidores e apontar possíveis vazamentos internos no imóvel, condição que melhora muito o relacionamento entre a Companhia e clientes.
Revista Saneas: Em relação à sustentabilidade, de que forma o projeto vai impactar positivamente o meio ambiente?
Marcello Veiga: Por se tratar de um projeto de combate às perdas, ele já tem todo o impacto positivo voltado ao meio ambiente, pois permite à Companhia atuar rapidamente no controle de desperdício de água e estimula os clientes ao uso racional e eficaz da água. Mas vai além. Esses são medidores com maior vida útil, condição que aumenta o tempo de troca, reduzindo o descarte de materiais. E, indiretamente, ajudamos na redução da emissão de poluentes com automóveis, uma vez que o número de vistorias em imóveis ou de visitas para substituição de medidores diminuem. Além disso, em um futuro breve, o cliente poderá receber suas contas por e-mail, evitando a impressão.
Revista Saneas: IOT no Saneamento já está em operação desde meados de 2018. Qual é a avaliação sobre os impactos gerados? Quais os principais problemas detectados?
Marcello Veiga: A avaliação é bastante positiva e desde que a Sabesp iniciou este trabalho percebemos que o mercado voltado a IoT enxergou a oportunidade existente no saneamento. Desde então diversas opções de uso estão surgindo e a tendência é que a adoção desta tecnologia cresça no segmento. Isso vai permitir uma gestão cada vez mais estratégica, elevando os resultados das companhias e prestando um serviço mais eficaz aos clientes. Até o momento não foram identificados problemas, vamos avaliar o desenvolvimento deste projeto inovador ao longo dos 60 meses do contrato.
Revista Saneas: Sobre contratação por desempenho, poderia explicar sobre esta questão? Como é feita? Quais são as vantagens?
Marcello Veiga: A contratação por performance ou desempenho é o modelo utilizado pela Sabesp. Neste modelo de contratação, a Companhia paga pelos resultados. O fornecedor realiza todo o investimento em equipamentos e mão de obra no início do contrato e é remunerado, mensalmente, pelos dados entregues ao longo dos meses de contrato, mediante o cumprimento de metas. Se isso não ocorrer, os valores medidos serão menores, condição que leva ao empenho do fornecedor ao longo de todo o contrato para atingir 100% dos resultados e garantir o recebimento total. A grande vantagem deste contrato é o fato de o investimento inicial partir do fornecedor, antecipando assim a execução e postergando o desembolso por parte da Sabesp.
Revista Saneas: Como funcionam os hidrômetros inteligentes?
Marcello Veiga: Os medidores utilizados são ultrassônicos, estes hidrômetros não possuem partes móveis, o que faz com que não sofra desgaste ao longo da sua vida útil. Ele ainda tem a capacidade de informar eventuais anomalias como: fluxo reverso, tentativa de violação, falta de água, vida útil da bateria e possui uma inteligência eletrônica que protege o aparelho em caso de uso indevido, além da alta sensibilidade para medir em baixas vazões.

Revista Saneas: Qual a sua visão sobre o papel da tecnologia e da inovação no setor de saneamento?
Marcello Veiga: A inovação se faz necessária no dia a dia de qualquer organização e não só no setor saneamento. A tecnologia é uma grande aliada: ao adotar as ferramentas corretas e contratar de forma adequada, podemos obter excelentes resultados. Um ponto de atenção é a questão do emprego, algumas funções certamente deixarão de existir e outras surgirão. No entanto, empresas e profissionais devem estar atentos às constantes evoluções e preparados para as grandes oportunidades resultantes das novas tecnologias.
Revista Saneas: Em sua opinião, a tecnologia pode, de alguma forma, acelerar a universalização do saneamento?
Marcello Veiga: Sim, a tecnologia permite uma atuação mais inteligente e eficaz, gerando melhor planejamento, ganhos de produtividade, redução de manutenções e melhoria da qualidade na execução do serviço com menor custo.
Revista Saneas: Algo que queira acrescentar?
Marcello Veiga: Vale destacar que, em 90 dias de contrato, já foram instalados mais de 18.000 equipamentos e o APP já está acessível a todos os clientes atendidos.